Aí, mais do que em qualquer outro lugar e de uma forma mais espectacular, parece que a nossa identidade vacila. Pessoas até então indemnes a qualquer desordem psiquiátrica sentem subitamente, sem tomar drogas, um sentimento de estranheza e perdem o contacto com a realidade.
O que é que nos atrai na Índia? Porque é que lá somos tão frágeis? E o que nos ensina sobre nós mesmos esta experiência, que transforma em profundidade a nossa visão do mundo?"
"A experiência indiana convida a uma exploração do originário. (...) Assim, a Índia interroga em nós a tenra infância,(...) Na Índia vive-se nu, ou quase. Temos a impressão de estar numa espécie de bolha, de cavidade húmida e quente, atemporal,(...)
A dimensão regressiva da Índia mantém o viajante num sentimento de todo-poderoso. Ele reencontra o conforto do narcisismo primário infantil e a omnipotência que lhe é atribuída. Este regresso inconsciente e momentâneo a um estádio precoce(...) dá a impressão de que tudo se torna possível.
(...)
O estrangeiro é submetido às solicitações permanentes dos indianos da rua e aos seus olhares. Eles perscrutam-no, observam-no, seguem-no, questionam-no por vezes até à indiscrição, comentam os seus actos(...) depois perguntam-lhe pela milionésima vez: "Where do you come from?" que poderíamos traduzir por: "De que planeta vem?" Temos então a impressão de ser sucessivamente a rainha de Inglaterra, um extraterrestre, um bicho curioso. "You are alone?", "No wife?", "Thank you, sir, and one question more?", "How do you feel? Well?". É-lhes difícil compreender que um ser humano possa sentir-se bem a viajar sozinho."
(...)
Alerta Pipeta!!!
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