Eu sempre adorei aquelas mesas de café com grupos de velhinhas reunidas numa tarde solarenga. Juntam-se para o chá das 15 porque as 17 ja têm de estar a caminho do colégio dos netos, para os irem buscar... Rivalizam no penteado. Umas ja assumiram o cinzento dos seus cabelos, outras atrasam os sinais do tempo com nuances castanho-dourado. Todas partilham de quantidades abusivas de laca a enrijecer a melena meticulosamente arredondada. No dedo mindinho todas usam um anel de brilhantes que nunca se ergue quando levantam a chávena. Um colar de pérolas brancas adorna o pescoço de todas elas. Continuam a arranjar-se umas para as outras. Continuam a gostar de estar bonitas umas para as outras.
As conversas andam à volta das trivialidades e mundanidades do seu quotidiano calmo e pachorrento. As suas memórias estão cristalizadas nas gargalhadas e histórias-sem-fim que partilham há anos. Algumas continuam a partilhar cigarros mesmo tomando tantos medicamentos para a DPOC. "Que se lixe!". As restantes, bem comportadas, tentam dissuadir as mais rebeldes a não o fazer. Nesta altura da vida são já umas verdadeiras resistentes. Uma delas já venceu um carcinoma na mama.Grande parte delas já ultrapassou uma depressão profunda e intervenções à anca.
Não estão ali porque não têm mais nada que fazer. Não estão ali porque se sentem sozinhas. Não estão ali porque a passagem impiedosa do tempo as juntou. Estão ali porque partilham um amor que o tempo não apaga, que o tempo não desgasta, que o tempo não descura.
Assim será connosco. Para as minhas meninas.
Pipeta C.
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