quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Os últimos dias de vida...

Eu estava naquele café com cheiro a croissant fresquinho, em pleno coração do Porto. Ao meu lado duas pessoas olhavam enternecidas uma para  a outra. Eram um casal, nos seus oitenta. Ela continuava elegante e lúcida. Ele, devastado pelo Alzheimer em estado avançado, tentava mastigar um bocadinho de pão que teimava em escapar-se da sua boca. Claramente era uma sombra daquilo que outrora foi. No entanto mantinham a mesma cumplicidade, o mesmo carinho, a mesmo vontade de consertar o que a vida trouxe de pior na recta final da vida. E ali estava eu. Não consegui deixar de pensar que um dia destes a vida daquele senhor se ia apagar de vez. Que no seu último respirar dificilmente se iria lembrar desta pessoa que o acompanhou toda a vida, que se entregou a ele pela primeira vez, que lhe deu o primeiro filho, que assistiu ao aparecimento dos primeiros cabelos brancos, que lhe segurou bem forte a mão quando lhe disseram pela primeira vez que tinha Alzheimer. Provavelmente verei a sua fotografia na necrologia do JN um dia destes. Pobre senhora. Dou-lhe três anos para sucumbir ao chamamento da morte. Quando um parte primeiro, no outro a vida vai-se desvanecendo exponencialmente... os dias acarretam uma dor e uma solidão que fazem a vida do outro lado fazer mais sentido...
                                                                                                                Pipeta C.




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